Existe algo profundamente misericordioso na forma como Deus age ao longo da história. Sempre que o Seu povo se dispersa, Ele não começa trazendo juízo, mas chamando-os de volta. Antes da disciplina, vem a graça. Antes da correção, vem Sua voz nos lembrando quem Ele é e quem nós deveríamos ser.
E é curioso perceber que, em quase todos os momentos decisivos da Escritura, Deus não começa corrigindo o que está ao redor. Ele começa tratando o coração. Ele fala com indivíduos antes de transformar ambientes. Ele restaura identidade antes de restaurar circunstâncias.
Foi através do profeta Joel que o Senhor disse: voltem para Mim, rasguem o coração, deixem que Eu mesmo faça a obra que vocês não conseguem fazer sozinhos.
O perigo de um coração acostumado
Nem sempre o desvio começa com grandes pecados. Muitas vezes, ele nasce no terreno da familiaridade. A gente se acostuma. Se acomoda. Continua fazendo o que sempre fez, mas sem perceber que a chama interna não é mais a mesma.
É possível continuar participando, servindo, ajudando e, ao mesmo tempo, perder a sensibilidade espiritual que antes era natural. Não por maldade, mas por distração. Não por rebeldia explícita, mas por cansaço, rotina e excesso de ocupações.
Joel descreve um povo que seguia vivendo, mas tinha perdido o coração alinhado com Deus. E quando o coração se afasta, o restante inevitavelmente se desorganiza.
Deus não está atrás de performances, mas de sinceridade. Não está pedindo gestos dramáticos, mas verdade. Rasgar o coração não começa com grandes resoluções, mas com vulnerabilidade.
O retorno ao lugar de dependência
Há uma frase que aparece repetidamente nas Escrituras, de formas diferentes, mas com o mesmo sentido:
“…porque sem mim nada podeis fazer.”
João 15:5
É impressionante como o coração humano tenta, vez após vez, caminhar pelas próprias forças. Estamos sempre tentando “dar conta”. Sempre tentando provar que conseguimos. Sempre tentando equilibrar Deus e nossas próprias estratégias.
Mas o avivamento que Joel anuncia começa justamente na admissão contrária:
“Senhor, nós não conseguimos. Precisamos de Ti até para Te servir.”
Essa é a virada. Não é uma frase bonita, é um reposicionamento interno. É aí que o Espírito encontra espaço para transformar, corrigir, alinhar e acender de novo aquilo que esfriou.
Dependência não é fraqueza, é o início da restauração.
“Deus chama Seu povo de volta ao essencial quando reconhecemos que até para voltar precisamos d’Ele — porque toda restauração começa onde confessamos: ‘sem Ti, nada podemos fazer’.”