Quando Paulo escreve que os servos de Cristo devem ser considerados como huperetes (1 Co 4.1), ele está resgatando uma imagem que se perdeu com o tempo. Huperetes eram os remadores escondidos nos porões dos navios. Não apareciam. Não eram celebrados. Não tinham nome famoso. Mas eram eles que moviam o barco.
A mensagem é clara: o Reino nunca foi sobre visibilidade, reconhecimento ou projeção. O Reino sempre foi sobre serviço.
E essa é uma das correções mais necessárias para a igreja de hoje: voltar para o lugar de servo. Largar as camadas criadas sobre a fé. Deixar de transformar ministério, vida cristã ou comunidade em plataformas pessoais.
A restauração começa quando lembramos que a nossa função não é ocupar o centro do navio, mas remar. Não é ocupar espaço, mas obedecer. Não é buscar reconhecimento, mas conduzir vidas ao destino certo.
Laodiceia e o perigo de achar que “não falta nada”
Apocalipse 3 nos confronta com outra realidade: uma igreja que se julgava rica, forte, completa e, ao mesmo tempo, estava pobre, cega e nua. Uma igreja que dizia “tenho tudo”, enquanto o próprio Cristo estava do lado de fora, batendo à porta.
A semelhança com os nossos dias é desconcertante.
Nunca tivemos tantos recursos. Nunca tivemos tanta estrutura. Nunca tivemos tantas ferramentas, tantos eventos, tantos conteúdos, tanta tecnologia. E ainda assim, nunca foi tão fácil confundir movimento com vida, volume com avivamento, agenda cheia com maturidade espiritual.
A questão nunca é: o quanto fazemos?
Mas: como vivemos?
Cair no Espírito pode acontecer. Celebrar em alegria é bíblico. Mas a pergunta mais séria é outra: NOS LEVANTAMOS NO ESPÍRITO? CAMINHAMOS NO ESPÍRITO? AMAMOS COMO O ESPÍRITO NOS CHAMA A AMAR?
Frutos são mais fortes que sensações.
“Que os homens nos considerem, pois, como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus.” (ARA)
1 Coríntios 4:1
O vale da decisão: onde se escolhe seguir Jesus sem reservas
Joel fala das “multidões no vale da decisão”. É uma imagem forte: um lugar onde Deus convoca o Seu povo a escolher o caminho pelo qual quer seguir.
Esse vale não representa apenas momentos de crise. Representa momentos de definição. Lugares onde deixamos de negociar pequenas concessões, abandonamos moldes que construímos sozinhos e dizemos:
“Senhor, quero seguir o Jesus das Escrituras. Quero o colírio do Espírito. Quero enxergar o que não vi. Quero que o Senhor trate o que endureceu.”
Há um derramar vindo. Mas esse derramar não chega sobre corações fechados, saturados de si, acostumados à aparência. Ele chega onde há entrega verdadeira.
“Quando lembramos que somos apenas huperetes — remadores ocultos do Reino — deixamos de buscar palco e voltamos a viver como servos, porque o verdadeiro mover de Deus não vem sobre quem aparece, mas sobre quem se entrega.”